Trajetória Subterrânea: Andressa Nunes

A Trajetória Subterrânea é uma coluna onde por meio de uma entrevista o Oeste Selvagem aborda a vida e obra de pessoas que estão produzindo sua arte nas margens ou nos subterrâneos da cultura de massa, nossa segunda postagem traz Andressa Nunes e sua música experimental, confiram agora as palavras e o talento desta mulher.



1 – Andressa, como foi e quando que você entendeu que era o momento de começar a gravar e lançar suas músicas?

Foi em 2015, mas até hoje tenho dúvidas...

A questão é que eu fui acumulando, acumulando composições que eu mostrava só pra duas ou três pessoas. Então elas me disseram que outros poderiam gostar, que eram canções interessantes e eu, apesar de duvidar um pouco, decidi gravar uns vídeos que fizeram um pequeno burburinho e depois o Ternura Inquieta. Minhas canções sempre partiram de experimentações, de uma espécie de diversão solitária, mas tenho tido cada vez mais vontade de compartilhá-las por aí.

2 – Como você associa a sua realidade ao redor dentro da sua música e como isso influencia seu trabalho? Acontece apenas nas letras ou isso também influi nas melodias?

Acho que meu trabalho tem sim uma certa permeabilidade ao que tá acontecendo ao meu redor, mas principalmente ao que estou consumindo em músicas, filmes, séries, pinturas, etc. Misturo muito as referências e não sou muito boa de enxergar as barreiras entre estéticas que à primeira vista pareçam muito díspares. As letras com certeza têm uma conversa com o que estou lendo mais e as melodias e harmonias às vezes buscam o encaixe com essas letras (um encaixe que pode ser inusitado, mas é um encaixe...).

3 – Sua performance musical ao vivo funciona como? Você se apresenta voz e violão/com banda? Existem outras pessoas que dão algum suporte para apresentações (quando haviam/haverão)

Sou bicho do mato, nunca fiz um show só meu ao vivo. Mas aceito propostas depois de vacinada.

4 – Fale para a gente sobre sua música nova AlgorID.

AlgorID a princípio é uma música que fala de algoritmos e de sua influência no nosso cotidiano, principalmente de quem tem que “se vender” na internet. Mas a partir daí ela se expande para muitas vertentes, como por exemplo a psicanálise (que está no nome, já que Id é um conceito do Freud). É uma canção que eu gravei em casa sozinha e fiz o clipe praticamente só pelo celular.

Não tive medo de trazer algo inusitado nela e a inserção de elementos antigos, como a biblioteca de Alexandria, com elementos recentes, como o código binário, é proposital justamente para lembrarmos que a ânsia por comunicar bem como a efemeridade dessa comunicação são coisas presentes em diversos contextos e civilizações. 

AlgorID também traz uma quebra de estereótipo dado que é uma música com roupagem de forró, de sertão, falando de tecnologia. No meu primeiro álbum, O Mandacaru Intergaláctico, essa já foi uma proposta que eu trouxe, lembrando através da música que o sertão vai muito além de certas estéticas e temáticas que a mídia traz.

5 – Quais são os planos para o resto do ano?

Terminar minha graduação em psicologia, gravar músicas quando der vontade e ganhar na loteria sem precisar jogar.
 



6 – Como você classifica sua música?

Não classifico... Ela simplesmente vem e a permito. É sempre uma dificuldade dizer se sou da MPB, pop, rock, forró, world music ou funkeira.

7 – É possível perceber que você não tem um apego a gênero musical na hora de se definir, mas sua trajetória musical é bem concisa, do seu EP Ternura Inquieta até O Mandacaru Intergaláctico é possível perceber elementos constantes, quando você sente que é o momento de inserir alguma nova característica dentro do seu trabalho?

Nunca foi algo pensado, minha música vem direto do meu inconsciente para o papel, sem passar por muitos filtros ou preocupações estéticas. É realmente um trabalho meio “selvagem”, então nunca existem escolhas estéticas a posteriori. Mas adoraria ter aparato técnico para fazer várias loucuras e inserir vários elementos que infelizmente a vida de artista independente não permite inserir.

 
 8 – Ainda falando sobre sua composição musical quais são suas influências maiores?

Depende muito, mas gosto bastante de um britânico chamado Jacob Collier, do Bob Dylan, da Bjork, dos Beatles, do Caetano Veloso, do Luís Gonzaga, Cátia de França, Geraldo Azevedo, Daniela Mercury, Adriana Calcanhotto e Carlinhos Brown.

9 – O que esperar dos próximos lançamentos?

Muitas aleatoriedades! Algo entre um samba sobre a faixa de gaza e uma rapsódia sobre onirismo...

10 – Agradecemos sua disposição, parabenizamos o seu trabalho e fica o espaço aberto para você fazer qualquer comentário ao público do Oeste Selvagem, vida longa e avante!

Muito obrigada, gente! E você que está lendo essa entrevista, lembre-se de compartilhar e de valorizar o trabalho do pessoal do Oeste Selvagem, esse tipo de iniciativa é extremamente necessária! Abraço e se cuidem !



Instagram: http://instagram.com/andressaporenquanto

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