Nycolle Fernandes - Solitude [Resenha]

 A pandemia não é razão para a música subterrânea entrar em colapso, talvez as grandes industrias e suas cadeias milionárias  de entretenimento, mas existe uma esfera social, cultural, econômica, que também se perpassa por tantas outras possibilidades, que está imune à falência. Habitam neste círculo de existência almas que angustiam e anseiam sua expressão de maneira apática ao rigor da economia, em outras palavras, quem sempre foi pobre não tem como falir, sendo assim, para esse cenário tão árido em oportunidades estruturais a pandemia e suas decorrências não passa de uma dificuldade a mais numa enorme lista, soa quixotesco porém este delírio febril é o contágio que mantém a doença da música dissonante viva e tão quanto imparável. As rádios não transmitem essas vibrações, a televisão não veicula essas imagens, nem por isso todas essas pessoas que estão tentando dizer ao mundo suas palavras calam-se. 

Solitude de Nycolle Fernandes é o fruto de uma geração enclausuradamente criativa, é uma reação impressionista que respira entre os ruídos dos dias e os reconstroem com o poder do calor humano que a poesia encadeia em paisagens carregadas de estática e distorção. São vinte faixas que combinam uma leve percussão, instrumentos gravados caseiramente, condição que a pandemia impõe e ao mesmo tempo inspira uma oportunidade mais próxima de pensar a música em nosso ser. Solitude como seu primeiro disco traz essa responsabilidade de dialogar com seu momento na história do mesmo jeito que artisticamente encaixa-se na mente de quem ouve com sua atmosfera tão empática criando um verdadeiro estado de conexão com as músicas em geral, com esse perfil a artista se sustenta como uma exímia observadora do mundo ao redor, sua capacidade de se observar perpassa pelas músicas e ao escutar essa capacidade se perfaz, acesse essa rede psíquica agora mesmo:


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