Arte No Oeste: A Teatralização da Carranca Por Gilberto Morais

Gilberto na execução da peça 

 O diretor e ator da Companhia de Teatro Mistura, C.T.M. doravante, de Ibotirama, tem em sua base o teatro de rua, o que orienta os rumos de sua produção tanto no meio criativo quanto como projeto social político e artístico da C.T.M. Acrescido a isso  o grupo também tem em sua inspiração para a criação o descontentamento sobre a própria representação, a carranca faz parte da cultura popular do São Francisco e suas adjacências e em sua concepção há uma questão importante sobre o grotesco, a carranca não é bela, sua essência é uma violência estética que põe medo ao inimigo. 

É refletindo sobre isso que Gilberto afirma "minha figura uma carranca" minha beleza é um outro valor, que não se estabelece dentro um padrão imposto, clama o não-lugar da estética ribeirinha dentro do mundo capitalista contemporâneo para si e a todo sua arte e seu público.


No papel de Zé das Carranca

O espetáculo Carranca nasce então da reflexão que o dramaturgo estabelece principalmente depois de ler As Carrancas Do São Francisco de Paulo Pardal. Depois que a ideia ficou pronta houve uma enorme circulação e diversas execuções da peça. Em 2019 o grupo saiu de barco pelo São Francisco apresentando Carranca, também conseguiram excursionar durante um mês por diversas cidades do sudoeste baiano vivendo apenas das contribuições arrecadadas passando o chapéu nas ruas, dessa forma durante a primeira circulação da peça o grupo conseguiu levantar 5 mil reais, além das edições do projeto que foram premiadas com editais.

C. T. M. no palco do teatro SESC Barreiras


Por falar nisso, este aspecto demonstra mais uma vez a genialidade de Gilberto Morais e seu engajamento com a comunidade ribeirinha, pois nestes projetos contemplados via edital houve uma parceria com ribeirinhos carranqueiros que além de ter seu trabalho usado na obra também tinham seu trabalho vendido após as apresentações do grupo por diversas localidades, o que proporcionou um giro maior de renda para o bolso de pessoas que nunca tem acesso a uma valorização tão grande por executar uma atividade tão importante, dessa forma, Gilberto afirma ter levantado em torno de 3 mil reais em venda de carrancas que foram repassados diretamente para quem produziu.


Cartaz do espetáculo Carranca


Isso tudo mostra reflexo da ideia do teatro de rua, o teatro que está preocupado com as pessoas que estão coexistindo em um lugar e uma época, além disso a própria forma que a peça se construiu também demonstra uma característica forte desse viés teatral, pois durante todo esse tempo de exibição a peça foi se alterando, isso é importante de dizer porquê o vídeo a seguir é uma execução da peça porém de tempos atrás, hoje a peça existe com alterações que as constantes execuções trouxeram. 


Para encerrar a postagem nada mais justo que o vídeo da mesma, lembrando mais uma vez que este não representa como a peça está hoje e sim como ela foi há um tempo atrás, também que Carranca não é o único projeto da C. T. M. na realidade há várias outras peças inclusive uma parceria muito educativa entre o grupo de teatro aqui apresentado e o CETEP (colégio estadual técnico) de Ibotirama no qual desenvolve-se o teatro alinhado com o desenvolvimento escolar, você pode conferir tudo isso pelas mídias que estão aí na imagem acima, não perca tempo e vá agora mesmo conhecer o prolífico trabalho de Gilberto Morais, esta mente talentosíssima a serviço da cultura, fruto do oeste baiano.







Comentários

  1. Obrigado Murilo Souza do Blog Selvagemoeste, fez uma linda Matéria, a sua escrita fortalece a caminhada carraqueira. Fiquei emocionando e reflexivo, aos poucos vamos nos conectando e conhecendo pessoas que seguem caminhos de lutas, de resistências e existências no Oeste da Bahia.

    É tanta gente, é tanto fazeres e saberes que o mundo virtual precisa nos levar para os espaços/lugares reais de vida, de humanidade e de pessoas, que as vezes não damos conta de do fazer do outro, o mundo está imediatista.

    Esse blog trás as culturais do Oeste da Bahia e cultura popular ribeirinha, local e regional ta representada em diversas matérias.

    Aí aparece uma pessoa que quer contar a história da cultura do oeste, tira um tempo da vida pra escrever, pra expressar no texto e na palavra, vidas. Fiquei honrado de está aí no seu blog, é potente! E estar perto de outras histórias, a gente só ganha força, fôlego, gás e um sobre pra continuar, pois quando se junta ou se encontra nesses lugares de pesquisa, estudos, teorias e práticas, há esperança.

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