COLUNA ARTE NO OESTE: TALITA DE MORAIS CIRINO - OLHARES PALAVRAS E CORPO

Nascida em Bom Jesus da Lapa, oeste baiano, Talita Cirino é a artista desta semana da Coluna Arte no Oeste! Sempre apaixonada por escrita e poesia, em seus arquivos pessoais, o ano de 2015 foi marcado por muita produção textual sobre o que sentia e o que a movia. Talita ainda não se enxergava politicamente como artista. Em 2016 Talita despertou para a fotografia, com olhar delicado para as paisagens, ainda no ensino médio era solicitada para projetos e revistas. A partir deste momento Talita começara a refletir sobre seu posicionamento, sua auto afirmação como artista.


Ainda em 2016 Talita pensava em ingressar na faculdade de Jornalismo, Psicologia, entre outras paixões. Neste meio tempo, enquanto ainda refletia sobre seu futuro, começara a cursar Técnico em Informática no  Instituto Federal Baiano onde se inscreveu para participar de uma oficina de Prosas e Versos. Talita ganhou em segundo lugar de melhor poesia o que também contribuiu para se encontrar num particular subjetivo.



Depois de algumas vivências nos anos anteriores, no ano de 2018 Talita decidi ingressar na UFOB e iniciar licenciatura em Artes Visuais. Ela conta um pouco pra gente sobre essa trajetória:  ''Lá eu me encontrei mesmo. Eu sou artista né? É isso que eu gosto de fazer e eu ficava naquilo...ah eu sou boa em  fotografia e escrever...mas não...no processo criativo você vai vendo que tudo você sabe fazer um pouquinho...''. Depois de dar inicio ao curso, Talita desenvolveu uma série de trabalhos em momentos determinantes para a artista.



 A artista cita trabalhos feitos a partir da perda de duas irmãs onde desenvolve uma ansiedade, a partir desta questão a artista produz uma série de fotos sobre seu sentimento de ansiedade profunda. Segundo Talita:  ''Fui imprimindo essas imagens e fazendo intervenções...colocando objetos que me faziam relaxar naquele momento...que foi o cigarro nesta época eu comecei a fumar muito...outro trabalho que fiz foi na cerâmica, voltada também para o conhecimento, auto cuidado e cura..você tem que se conhecer para conhecer o que está acontecendo para poder lidar com as frustrações e o medo e a falta..assim eu falo que esse processo foi um processo de auto conhecimento como artista, como mulher''.



Talita ainda num primeiro momento trabalhava muito dentro de uma timidez que a impossibilitou em alguns momentos mas que posteriormente foi conseguindo romper.

A partir daí participou de mostras fotográficas e performances. A artista comenta:  ''Eu passei por todo processo criativo que foi em duas etapas...e eu pensei que não iria conseguir..mas foi um dos trabalhos que tenho muita gratidão...um tempo que eu não estava muito legal comigo mesmo...mas foi um trabalho sobre florescer...mesmo com a dor...eu fiquei com meu corpo exposto''.


No momento Talita está numa fase de testagem com transferência de imagens que é quando se pega uma fotografia impressa e a transfere para outra superfície. Talita está trabalhando com suas fotografias fazendo desconstruções e novas construções, ela comenta: ''Pego uma imagem linda e destruo produzindo relevos e manchas, estou gostando de fazer isso...eu faço minha foto de paisagem que eu amo e destruo ela...''.

Desde que conheci os trabalhos de Talita Cirino inicialmente na fotografia (tive muito contato com suas fotografias de paisagem de Bom Jesus da Lapa-BA) sempre fiquei muito emocionada. Não só pela qualidade incrível das fotos mas pela beleza irradiante...suas fotos são quase como pinturas onde você fica hipnotizado por aquela paisagem e quase que através daquela fotografia você se transporta para aquele lugar a qual Talita fotografa. A sensação é de olhar a foto e automaticamente estar no local. Participar daquele olhar. 

Com muito repertório a artista que ainda tem muito a dizer através de olhares, palavras e corpo, segue em produção contínua mesmo neste momento delicado de pandemia do Covid-19. Se para alguns poesias e fotos são apenas para momentos nostálgicos ou superficiais...Talita Cirino nos coloca a pensar que poesias são processos de cura, fotos são construções contínuas de momentos e arte é auto conhecimento. Seja performando o corpo na rua denunciando feminicídio, seja performando no banheiro da universidade ou colocando a mão na argila trabalhando suas dores, seja fotografando seu avô no barco, transformando as imagens passando pra madeira, pra tecido, destruindo as paisagens...Talita Cirino tem muito a nos contagiar. Sua energia e transição de elementos para sua expressão nos deixa sempre na expectativa...o que será que Talita irá nos trazer da próxima vez? 

Fotos cedidas gentilmente pela artista:



Projeto de Cerâmica 

Performance Confusões Internas

Projeto Paisagens

Projeto Transferência de Imagem 

Projeto Transferência para madeira

Performance Feminicídio

Cartaz do Festival Dilemas Corporais onde Talita Cirino participou com a performance Confusões Internas (foto da artista em performance)

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