COLUNA ARTE NO OESTE: GLÉCIA NEVES FRAGMENTAÇÃO E PERCEPÇÃO

Glécia de Almeida Neves, nascida em Santa Maria da Vitória-BA, já foi diretora de escola, 
professora de rede pública e estadual, já tentou se envolver com outras temáticas quando começou um curso de serviço social, mas é na arte que Glécia sempre se encontrou. Glécia sempre esteve envolvida com trabalhos manuais, apaixonada por crochês e experimentações das mais diversas. Atualmente a artista cursa Licenciatura em Artes Visuais na UFOB e é dela que nosso blog de notícias fala hoje!

Imersa em um mundo de retalhos subjetivos a artista trabalha com uma espécie de vários esquemas onde em fase de processo até enfim a sua resolução, embarca em diversos trajetos a ponto de transmitir para quem pode passar pela experiência (quase mística ouso dizer) de assistir a seus trabalhos, uma sensação de ultrapassar o mundo físico, atingindo o inconsciente, trabalhando com nossas questões mais profundas.

O início do projeto Olhar Fragmentado é intenso através de muitos trabalhos de colagem trabalhando intensamente com cores e formas, a artista faz estudos de Hélio Oiticica se encanta por processos de mosaicos, é quando que acidentalmente, surge uma alternativa para lidar com um outro processo de fragmentação, desta vez, com vidro. A artista conta que: ''Descobri acidentalmente quando quebraram o espelho retrovisor do meu carro eu tirei a foto...quando olhei a foto, lá estava o meu reflexo, foi aí que eu descobri..então peguei 288 peças lixei manualmente...e levei três dias para montar na parede''.

 A percepção para quem experimenta esta obra da artista é de enxergar aquilo que não se vê a primeira vista, diferentes ângulos de si despertando uma nova possibilidade de se olhar no vidro de espelhos, cada pedaço do espelho fragmentando uma forma, algumas reconhecíveis outras não. O que intriga e fortalece o processo de percepção do olhar.

Em seu projeto Casarões Antigos de Samavi, Glécia realiza uma série de desenhos com caneta nankim e giz de cera. A artista vai traçando uma história que nos leva, através de desenhos, para dentro da cidadezinha do oeste baiano. A artista nos conta que: ''Cada desenho têm uma história. A casa onde eu nasci, a casa onde meus pais casaram e tiveram o primeiro filho, cada desenho têm uma história.'' A artista vai sintetizando assim lugares particulares e ricos em detalhes e dizeres. Aos moradores uma chance de encontrar sua própria casa desenhada aos olhos atenciosos da artista, aos que desconhecem o território, uma chance para vislumbrar um território rico em sua construção e histórias.

Em uma experimentação trabalhando com arte e natureza, a artista através de um sentimento de revolta contra queimadas acaba por filmar um ato de queimada em um bairro da sua cidade  e a partir daquela filmagem e de muita reflexão, surgem as telas com materiais inusitados vindos dos vestígios da queimada.

O projeto Ossaim é recheado de revelações para a vida da artista  tendo em seu caminho alguns projetos paralelos. Um trajeto que começa com a ida de Glécia a Salvador, levar sua mãe a uma consulta, conta a artista: ''Chegando perto de Salvador o motorista diz: Glécia vamos parar um pouco pra gente descansar.. eu estava com um celular antigo, da primeira vez que desci a primeira visão que eu tive foi da Serra de Pai Inácio...fotografei aquilo dali me deu um estalo quando vi aquela natureza deslumbrante...eu tive essa ligação senti essa energia..continuei a viajem até salvador''. Da ída a arista a Salvador, ela desenvolve algumas telas da Serra de Pai Inácio, esta seria a primeira fase do projeto que viria a ser Ossaim captando um pouco dessa natureza deslumbrante o qual a artista se conectou tanto. Telas de diversas cores e intensidades que para quem admira por um tempo chega a se perder nas linhas do horizonte das pedras, nos relevos.

 Também da visita a Salvador surgem diversas telas com temáticas de Orixás com cores chapadas, demarcando fortemente a cada desenho. Em um dado momento, Glécia tem um sonho que define seu projeto Ossaim ela conta: ''Um dia eu sonhei que eu estava numa mata e na mata eu vi um homem todo de branco vindo de uma floresta vir com cheiro de planta, ele veio com as mãos fechadas e disse pra mim assim: filha, essas folhas...com essas folhas ninguém te fara mal...'' A artista, então, entra num processo intenso em pintar telas com múltiplos tons de verde e desenhar incessantemente o tema do Orixá Ossaim, rei das plantas e da medicina. A artista comenta que: ''Hoje tenho no meu quarto esculturas de Ossaim ... e o tema não consigo mudar, no projeto arte corpo fiz um seminário com tema Ossaim, em cerâmica a escultura de Ossaim e assim ele dentro de mim foi crescendo uma energia muito grande, uma energia boa e hoje eu posso lhe garantir...que...eu me entrego a esse Orixá, uma energia inexplicável e nisso...uma historia liga a outra..'' Em momento de quarentena devido a pandemia de Covid 19 Glécia começa a produzir crochês e a linha que sempre vem a sua mão é a linha verde, cor do Orixá Ossaim. A artista também compartilha com o nosso blog de notícias que foi uma descoberta para ela os Orixás e acabou por ter conhecimento que sua a sua vó, mãe de seu pai, era filha de negro com índio e sua bisavó era espirita...ela compartilha: ''Eu tendo sangue negro correndo nas veias nisso eu sinto uma coisa mais intensa, uma ligação linda.'' O projeto Ossaim revela sua ancestralidade e a artista embarca sem medo na busca de suas origens descobrindo um mundo de energias e a quem acessa sua arte um universo de experiencias quase metafísicas cheias de significado e intensidade.

No projeto de performance Um Novo Olhar Glécia aborda suas vivencias de bulling e preconceito para com seu corpo: Ela comenta: ''Os dilemas corporais foi por uma questão de estar sofrendo bulling porque essa coisa de aceitação do corpo como ele é'' a você é magra demais''...fiz a performance usando uma roupa por cima da outra...'' Trazendo um novo significado ao ato de se olhar e se aceitar, com esta performance, a artista se expõe e a quem se identifica o ato é poderoso e cheio de força e em busca de um pensamento de liberdade com o próprio corpo, para além dos olhares observadores de julgamento.



A artista santamariense Glécia Neves está sempre muito ativa em diversos processos que lhe surgem a partir do cotidiano, ela transmite de modo muito sútil um mundo de experiências únicas cheio de cor e exuberância. Muito ligada as plantas e ao meio ambiente, a artista se manifesta fervorosamente, ouso dizer uma genuína Artevista! Muito enraizada ao oeste baiano Glécia tem um conhecimento vasto e um estudo minuscioso de ervas e folhagens trazendo uma riqueza as suas produções. 




Conseguir acessar o nosso inconsciente para tornar nosso posicionamento consciente para as questões ambientais e políticas talvez seja o objetivo mais direto da artirta Glécia no momento. De qualquer forma, suas artes refletem um universo que refletido ao nosso particular, nos fazem parar e pensar sobre como agimos e pensamos o nosso modo de vida. 



Escultura de Orixá Ossaim

Desenho de Orixá Ossaim

Pintura Serra de Pai Inácio

Pintura/Colagem-Indignação

Pintura Orixá

Projeto Olhar Fragmentado

Pintura Ossaim

Desenho Projeto Casarões Antigos de Samavi

Fotos: cedidas gentilmente pela arista















Comentários