1º de Maio: Uma Reflexão Crítica

Uma data que sua existência em si já representa um histórico de lutas internacional não parece ter nos dias de hoje a mesma colocação que em dias passados.
A luta que envolve o Primeiro de Maio remonta ao século XIX, a Europa passa por um processo intenso de industrialização no fim do século, com a expansão industrial cresce o aumento da necessidade de mão de obra, esta por sua vez era abundante, já que a industrialização causou uma onda de desemprego em massa nas zonas rurais, causando um êxodo. O trabalho rural que é uma atividade uma comunidade inteira é substituído pelo aliante serviço fabril. Mas isso não significa que o trabalho oferecido fosse humanizado de qualquer forma que se conhece hoje em dia no século XXI, muito pelo contrário. As condições de trabalho eram as mais absurdas possíveis e inclusive não distinguia adultos de crianças. Isso fez com que a partir dos 6 anos de idade uma pessoa já era considerada para o trabalho nas linhas de produção em larga escala, incluindo jornadas de 14 horas diárias sem folga e tendo seu salário dado

 
Crianças trabalhando numa fábrica da Revolução Industrial

a uma pessoa adulta, pois uma criança de 6 podia trabalhar mas não tinha juízo para ter nas mãos o próprio salário. Todas essas condições resultam em conflitos entre a classe trabalhadora e o patronato, entre os momentos mais altos/trágicos dessas lutas destaca-se o Primeiro de Maio de 1886 em Chicago, nos Estados Unidos onde acontece a manifestação pelo direito de 8 horas diárias ao invés de 13, o que também foi a primeira greve geral do país, aderida por milhares de pessoas, porém o ato acaba com 3 manifestantes mortos o que intensifica a luta, levando o protesto para 2 dias seguidos, sendo que no segundo a classe trabalhadora reage à violência policial com uma bomba matando 8 policiais. A partir daí a polícia abre fogo na multidão indiscriminadamente o que leva a óbito 12 pessoas e fere outras dezenas. Por essa razão 5 sindicalistas são condenados à pena de morte e outros 2 à prisão perpétua. 

5 anos depois na França, trabalhadores locais escolhem o primeiro de maio em homenagem às lutas de Chicago para realizar uma manifestação o que resulta em 10 trabalhadores mortos, porém ano após ano a luta continua e 28 anos depois a França reconhece enfim o direito à 8 horas diárias de trabalho, veja bem, até aqui são mais de 30 anos e vários cadáveres para que o simples direito de 8 horas de trabalho fosse sancionado. 

Os 5 Mártires de Chicago

Com o movimento de migração da década de 20 o Brasil acaba recebendo muitos trabalhadores de outros países que já estavam engajados em sua luta por direito, fazendo com que no país houvesse uma grande influência anarquista, comunista e socialista no movimento proletário nacional, Essa herança gera frutos como a primeira greve geral do Brasil, que acontece em 1917, mas apenas no governo de Arthur Bernades em 1925 que é reconhecido o feriado no dia 1º de Maio, vale ressaltar que Vargas utilizou da data como palanque político, sendo que deixa para esse momento o anúncio da criação da justiça do trabalho (1941), e a instituição da CLT;consolidação das leis trabalhistas (1943). 

Peça importante nesse cenário são as crianças, como dito anteriormente, não havia distinção trabalhista entre adulto e criança exceto pelo valor do salário, em 1891 a idade mínima para o trabalho no Brasil era 12 anos de idade (decreto nº 1.313), apenas em 1925 que a OIT (Organização Internacional do Trabalho) promulga que não pode contratar pessoas com menos de 14 anos de idade, em 1927 é que se tem o primeiro código legal onde a idade de maioridade é 18 anos, como é possível perceber, o próprio ato de entender uma pessoa de 0 a 17 anos como menor de idade demorou muito tempo para acontecer legalmente, isso mostra como o próprio país se importa historicamente com a vida de classes menos favorecidas.
Insurreição Anarquista de 1918 ou Intrépido Motim de 18 de Novembro de 1918

A conquista do ato de sindicalizar foi um direito que não veio fácil, muito menos teve garantias do governo para nascer, ao contrário foi com muita luta popular até finalmente acontecesse, o que antigamente chegou a ser um crime, passou a ser institucionalizado mas para servir como uma ferramenta de controle Vargas é a pessoa que visualiza e aplica esse modelo, como resultado de anos desse processo, hoje em dia, século XXI, é comum aos sindicatos não organizarem lutas, ou pautas para mesmas, mas promoverem uma lavagem cerebral de classe, ao buscar regalias e pequenos subornos sociais aos trabalhadores, um exemplo prático é o sindicato que oferece descontos em viagens, hotéis, restaurantes, como uma forma de valorizar o trabalho e o trabalhador, o que parece louvável, não fosse uma estratégia de se isentar da obrigação pela luta de condições favoráveis para a classe permitindo-a a ter acesso aos bens sociais e materiais através de um salário digno dentre demais direitos, um outro pico histórico desse momento foi justamente em pleno governo do PT, onde pela primeira vez um partido de esquerda fica à frente do gabinete presidencial, o que gerou muita expectativa por parte da classe trabalhadora, mas o que se viu foi apenas um segmento do modelo Varguista, as lideranças sindicais foram cooptadas para o escalão do governo, o fato do governo ser de esquerda apenas estreitou a ligação entre governo e sindicatos, deixando de fora o proletariado, as lideranças foram compradas, cooptadas, o que criou uma fratura no movimento trabalhista enorme o bastante para desmobilizar ao ponto que hoje se encontra: um país com uma reforma trabalhista que beira o feudalismo e uma massa trabalhista que é incapaz de se organizar em greve geral ou de qualquer outra forma.

O dia de hoje é importante demais para ser relegado à uma festa, hoje é dia de luta, dia de sangue, quem sabe em um futuro próximo, essa data seja motivo de orgulho para a história do povo brasileiro, até lá, resistiremos, organizemos, lutemos com tudo que puder, pois é bem clara a urgência de um novo despertar da consciência de classe brasileira, a posição dos patrões em plena pandemia é assassina, o presidente é um assassino, e nós operariado, seremos coniventes até quando? Quanto tempo vamos passar sem pensar em união de classes pelo bem do nosso presente e futuro?



Comentários

  1. Infelizmente, para grande maioria, essa data representa apenas mais um feriado no calendário ou dia de compartilhar mensagens para se auto promover (principalmente os políticos)... Precisamos recuperar nosso protagonismo na luta dos nossos direitos. Ótima reflexão!

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